terça-feira, 21 de julho de 2009

Cidade sem estrelas

Na varanda de um café, sentada em uma mesa próxima ao parapeito, uma senhora de meia idade observava o movimento constante da rua, seu olhar distante.

Era segunda feira a tarde, o dia de folga dela. As mãos calejadas que envolviam a xícara mostravam anos de trabalho duro e a pequena aliança em seu dedo, anos de devoção. Mergulhada em pensamentos, costumava ficar ali imaginando como estaria seu filho, que trabalhava fora do país.

Dentro do café, na parte dos fundos onde os funcionários se trocavam, duas jovens trocavam confidencias, uma chorava.

– Eu sabia que ele estava com outra! – disse em meio a soluços.

– Ele não presta.

– O que foi que fiz para merecer isso?

– Ele não presta – a amiga repete a abraçando, deixando que derrame suas lágrimas sobre seu uniforme.

Andando pela calçada, um senhor de idade tenta atravessar a rua. Três passos, extremamente lentos, são necessários: bengala, perna direita e por fim a perna esquerda. Sua coluna é envergada por anos de trabalho levantando peso e seu olhar cansado.

Um carro corre em direção a ele, sem diminuir a velocidade, o motorista, ainda jovem, apenas desvia do velho tão próximo que se não fosse pela mão amiga teria sido atropelado.

Os transeuntes xingam o motorista.

Pegando o senhor pelos braços, um homem de terno e gravata o puxa para perto de si, salvando o idoso do jovem motorista imprudente. Mantém a postura impecável de um alto executivo.

– Eu estou bem – anuncia o velho a todos que o olham.

– Eu estou bem, obrigado – agradece ao homem com um sorriso.

O executivo responde apenas com um falso sorriso e solta o braço do senhor, em seguida arruma sua gravata e continua seguindo seu caminho a passos apressados.

Com uma mão no volante e a outra no celular o jovem, com lágrimas nos olhos, não consegue pensar. Esta fora de si, felicidade e medo o dominam a adrenalina corre incessante em seu sangue. Do outro lado da linha sua mãe grita:

– Vai nascer! Vai nascer! Seu filho vai nascer!

Tento apenas vinte e um anos, a chegada de seu filho trazia um novo rumo a sua vida. Nada seria como antes.

Sentado ao chão, de mão estendida, um mendigo olhava para cima para os transeuntes que passavam o ignorando. Ele esboçava o sorriso mais amigável que conseguia.

– Assim é a vida! A vida é assim! – exclamava para quem passava. – Peço humildemente por perdão. Perdoem por eu não me apresentar com a mesma dignidade que vós!

– Vai trabalhar, vagabundo! – gritava algum mais estressado ao ouvir a cena.

Gritos e risadas de crianças são ouvidos, misturando-se com o alaranjado de fim de tarde. A escola nas proximidades abre suas portas para a saída dos pequenos e pequenas.

Fileiras de caros surgem de lugares desconhecidos. Pais e mães que buscam seus filhos e filhas. Também uma sorte de pessoas que saem de seus trabalhos.

Parada em um ponto de ônibus, uma mulher massageia seu próprio ombro com a mão, exausta após a faxina do escritório em que trabalha.

Suspirou ao ver seu ônibus tão cheio que ma podia fechar as portas. Encolheu-se nas escadas do ônibus e partiu apertada, obrigada a, pelo menos durante as quase duas horas até sua casa, esquecer sua dor.

Uma mãe carregando sacolas de supermercado em ambas as mãos, sorri quando vê a filha correndo em sua direção, recém saída da escolinha.

– Como foi o dia? – pergunta assim que a filha lhe da um abraço.

– Foi normal, tenho muita lição de casa agora – disse um pouco triste.

– Então tem que se esforçar – disse a mãe. – Não quer fazer a lição enquanto faço a janta? – perguntou erguendo as sacolas.

– Hun! – assentiu a filha sorrindo.

Mãe e filha caminharam lado a lado até a casa delas.

Os gritinhos e risadas continuaram por mais algum tempo. Assim como as buzinas e congestionamento.

A tarde começava a ceder espaço para a noite.

Assim chegava ao fim mais uma segunda-feira na cidade onde não se podia ver as estrelas.