domingo, 18 de outubro de 2009

Duas Luas - Cinco

Seres imortais que regem a noite, as trevas e a pureza. É assim que Akari se denominou. Não apenas elas, mas como todas as sacerdotisas que representam a lua.

Qualquer outra pessoa pensaria no absurdo daquelas palavras, mas não seria a primeira vez que via ou ouvia coisas impossíveis. Apesar de minha tolerância para coisas improváveis, uma coisa aprendi: quando se descobre um desses absurdos, prepare-se para problemas.

– E o que você faz aqui? – perguntei após a explicação dela.

– Tentando encontrar uma lua.

– ...?!

Akari riu.

– Não é que a lua tenha caído na terra – disse apontando para o céu cuja lua cheia aparecia cortada por nuvens negras da noite. – Mas existem as descendentes da lua. Na verdade são duas, gêmeas e imortais. Tento encontrar uma desaparecida.

– E você quer que eu acredite nisso?

– Hummm... – pensou colocando o indicador sob seu queixo. – Imagino que isso seja realmente estranho para um ser humano da terra – ficou em silêncio ponderando mais alguns segundos. – Não. Não precisa acreditar nisso.

O problema era que eu acreditava. Não precisamente em sua história, mas no contexto geral. Sua imortalidade explicaria seus ferimentos se curando rapidamente. Mas procurar uma lua...?

– O que quero – prosseguiu encarando-me nos olhos. – É que você me diga o que quer.

– Huh? – perguntei surpreso, erguendo uma sobrancelha.

– Sim – disse encostando-se a sacada. – Você salvou minha vida, duas vezes. Então eu devo algo a você em troca. Qualquer coisa.

– Erm... se você é imortal, não acho que tenha salvo sua vida.

– Ah – disse abrindo um sorriso. – Somos imortais de idade e temos uma tolerância para danos em nossos corpos, dependendo do grau do ferimento levamos dias para nos curar o que nos deixa vulneráveis durante um período. É nesse período em que nos recuperamos que podemos ser mortos.

Cocei o queixo, uma brisa fria passou por nós ondulando o longo cabelo azul de Akari.

– Então, você salvou minha vida – falou depois de ver minha cara pensativa. – Então estou lhe devendo, você pode...

Antes que terminasse levantei-me da cadeira da varanda e entrei no quarto.

– Você não me deve nada, apenas tome mais cuidado – disse deitando-me no sofá que havia no centro.

Esse era o quarto de visitas, na verdade haviam dois quartos no andar de cima da casa e um menor no andar térreo, eu preferia o quarto do térreo, não por ser menor, mas por estar mais próxima a entrada da casa. Por se situar na entrada, podia ouvir qualquer um que entrasse pela porta da frente. Os outros quartos serviam como escritório e biblioteca.

No que estávamos, que tinha a sacada, era a biblioteca que tinha um enorme sofá de descanso no centro.

De olhos fechado sinto alguém subir no sofá e parar sobre mim, os cabelos de Akari caem sobre meu rosto e ouço sua voz próxima a minha orelha.

– Talvez essa seja uma oportunidade única em sua vida – sussurrou de uma forma sensual e misteriosa que me fez estremecer.

Ao abrir minhas pálpebras nossos olhos se encontraram e ela se afastou com um sorriso.

– Pois bem – disse levantando-se. – Vou ficar aqui até que você tenha algo para me pedir.

Suspirei esfregando o topo do nariz com o indicador e polegar. Olhei para o relógio, já era sexta feira.

domingo, 11 de outubro de 2009

Duas Luas - Quatro

Sobre a fina barra de ferro que não devia ter mais de três dedos de largura, ela parou sobre os dois pés, completamente equilibrada. Andou de um lado a outro sobre o parapeito como se fosse a coisa mais natural de se fazer, parecendo um gato.

Virando-se a minha frente vê minha cara espantada e sem reação.

– Então... – disse como em um miado entediado. – Você me salvou.

Apenas assenti.

– Hum... – olhou em meus olhos concentrada. – Acredito que eu tenha que agradecer a você, senão estaria em uma situação muito ruim.

Assenti novamente de boca escancarada.

Saltou da barra e usou ambos os braços para se segurar a ela antes que caísse. Seus pés ficaram suspensos por um minuto e logo depois, usando seus braços como alavanca, pôs a se sentar sobre o parapeito, cruzando as pernas em seguida.

Quanto de força tinha, era impossível saber, mas para fazer o que fez de maneira tão natural devia ser alguém com força sobre humana, ainda mais com aqueles braços finos.

– Então... – mais uma vez sua voz saiu como um miado. – O que você faz?

– Desculpe? – perguntei ainda surpreso com sua performance de acrobata.

– É. O que você faz, com que trabalha. Essas coisas – disse impaciente.

– Humm... – murmurei pensativo. – Organizo relatórios em uma empresa... acho que você pode dizer que eu sou uma pessoa bastante ordinária nesse aspecto.

Ela ergueu uma sobrancelha fitando-me com seus olhos azuis que reluziam a luz na lua.

– O que faz fora do trabalho?

– Humm... – pensei de novo. – Nada de mais, leio livros, fico aqui fora tomando um café, fumando um cigarro e apreciando o céu.

– Que chato... – disse entediada.

Huh? Chato? Me desculpe se eu não sou uma pessoa que aparece cheio de cortes pelo corpo e me curo rapidamente. Ou caio desmaiado de madrugada no meio de uma rua deserta. Ah, sim. Prefiro minha vida assim como ela é do que a que está se passando por sua cabeça.

Um momento, espera um pouco. Não devia ser eu fazendo as perguntas aqui?!

– Você não pode ser tão monótono assim! Tão comum! – exclamou ela inclinando-se para mim, tanto que parecia que iria cair da barra de ferro.

– Erm... Acredito que não seja uma questão de poder ou não...

– Claro que é!

– E por que da sua exaltação?

Arght, de novo era ela quem estava no controle da conversa. Me perguntei quando foi que deixei esse rumo ser tomado.

– Ora! – endireitou-se e cruzou os braços com ar superior. – Por que eu fui salva por você. E se você é uma pessoa comum e monótona, isso faz de mim algo ainda pior!

Mas que?! Como essa garota...?! Respirei fundo passando a mão pela cabeça.

– Estou brincando – disse e ao olhar para ela vi o canto de seus lábios se erguer em um sorriso e abrir um de seus olhos em minha direção. – As vezes é no comum que se encontra a beleza de toda a vida.

– Huh?

– Fiquei curiosa em ver seu rosto irritado. Alguém que passa pelo que você passou comigo não teria uma expressão tão tranqüila quanto você teve.

– De qualquer forma – prosseguiu, – você parece ser uma pessoa bastante interessante... humm...

– Eduardo – respondi sem compreender a mudança radical. – Pode me chamar de Du.

– Du – repetiu sentindo o gosto do nome em seus lábios finos e rosados. – Um nome comum para uma pessoa comum – murmurou. Saltou do parapeito e caiu em minha frente estendendo sua mão aberta para mim. – Akari Luna. Ou como alguns humanos me chamam: Tsuki Akari. A luz da lua.

– Luz... da lua? – repito sem compreender.