sexta-feira, 6 de julho de 2012

A Dançarina da Madrguada


Quando a sombra da noite cobriu o sono das pessoas, a garota pousou descalça sobre o asfalto empoeirado e cinzento da cidade. Como fazia todos os dias ela passou a dançar, a Lua e as estrelas eram as únicas espectadoras. Contudo, aquela noite havia mais uma pessoa a vê-la, alheia a sua presença, saltava sobre as projeções luminosas dos postes. Seus cabelos prateados e vestido branco acompanhavam o suave movimento de sua dança.
                Hipnotizado pela beleza celestial da garota, não pude desviar meu olhar, mal sabia se estava respirando ou havia me esquecido. Pensava que em um suspiro, em uma única e simples piscada, poderia perder aquele instante para sempre.
                Quando nossos olhares se cruzaram? Seriam segundos, minutos ou horas? Mas foi naquele instante que eu vi seu rosto tão alvo quanto porcelana, um sorriso meigo e gentil se formou em seus lábios delicados. A garota acenou, como se já houvesse, há muito, percebido a minha presença ali, na janela da minha casa. Enormes asas de prata se abriram de suas costas, reluziam uma aura branca angelical, penetrando a noite fria com luz vívida e calorosa.
                Um piscar de olhos.
                Foi tudo que precisou, e assim que os abri vi a garota subir aos céus, as penas brancas ondulavam sobre o ar noturno deixando rastros prateados.
                Desci correndo as escadas, desesperado, mas era tarde. A única coisa que havia sobrado nas ruas era a solidão acompanhada da madrugada.