domingo, 28 de junho de 2009

Sem inspiração.

Faz quantos dias? Ou será que foram semanas? Talvez até meses?

Não sei. O que sei é que a brancura do papel começa a me enjoar. Vertiginoso, opressor, aterrorizador. O branco envolve o fundo da minha córnea projetado de cabeça para baixo, ou será de cabeça para cima? Vejo navios, colossos, guerreiros, detetives e casais apaixonados... mas passam muito rápido, não consigo captá-los.

A caneta.

A tinta contida em um recipiente de acrílico. Aprisionada. Trancafiada. Esquecida. Sua liberdade tão breve que dura nano-segundos até sua nova prisão... o papel. Tem sorte quando é aprisionada em palavras ricas e belas... O que não é o meu caso.

Minha cabeça dói... será o branco do papel? Tão branco que as linhas horizontais se misturam no oceano... branco.

Branco, branco, branco.

“AAAAAAARGHT!” Jogo a caneta sobre a mesa e dou voltas pela cadeira de madeira, velha e empoeirada.

Sou um merda.

Minha vida é uma merda.

Constato tudo ouvindo as musicas dos vizinhos se divertindo em plena noite de sábado.

Sou um merda.

Fétido, inútil, desprezível... Restos negados pelo próprio corpo...

Tentei me matar, mas nem isso consegui.

A colher de madeira não quis cortar meu pulso. O fio dental se rompeu quando o testei antes de me enforcar. O copo d'agua não foi o suficiente para me afogar. A arma que usei estava sem munição... e era de bolinhas...

Não há inspiração da minha vida. Não há inspiração da minha morte.

Sento-me na cadeira.

Folha branca. Caneta cheia. Tinta aprisionada esperando para que eu a liberte em palavras belas e românticas. Palavras certas e sábias.

“Dane-se,” escrevo na folha. “Eu sou um merda.” Continuo...

Ah... a beleza...

Acendo um cigarro e olho pela janela.