domingo, 11 de outubro de 2009

Duas Luas - Quatro

Sobre a fina barra de ferro que não devia ter mais de três dedos de largura, ela parou sobre os dois pés, completamente equilibrada. Andou de um lado a outro sobre o parapeito como se fosse a coisa mais natural de se fazer, parecendo um gato.

Virando-se a minha frente vê minha cara espantada e sem reação.

– Então... – disse como em um miado entediado. – Você me salvou.

Apenas assenti.

– Hum... – olhou em meus olhos concentrada. – Acredito que eu tenha que agradecer a você, senão estaria em uma situação muito ruim.

Assenti novamente de boca escancarada.

Saltou da barra e usou ambos os braços para se segurar a ela antes que caísse. Seus pés ficaram suspensos por um minuto e logo depois, usando seus braços como alavanca, pôs a se sentar sobre o parapeito, cruzando as pernas em seguida.

Quanto de força tinha, era impossível saber, mas para fazer o que fez de maneira tão natural devia ser alguém com força sobre humana, ainda mais com aqueles braços finos.

– Então... – mais uma vez sua voz saiu como um miado. – O que você faz?

– Desculpe? – perguntei ainda surpreso com sua performance de acrobata.

– É. O que você faz, com que trabalha. Essas coisas – disse impaciente.

– Humm... – murmurei pensativo. – Organizo relatórios em uma empresa... acho que você pode dizer que eu sou uma pessoa bastante ordinária nesse aspecto.

Ela ergueu uma sobrancelha fitando-me com seus olhos azuis que reluziam a luz na lua.

– O que faz fora do trabalho?

– Humm... – pensei de novo. – Nada de mais, leio livros, fico aqui fora tomando um café, fumando um cigarro e apreciando o céu.

– Que chato... – disse entediada.

Huh? Chato? Me desculpe se eu não sou uma pessoa que aparece cheio de cortes pelo corpo e me curo rapidamente. Ou caio desmaiado de madrugada no meio de uma rua deserta. Ah, sim. Prefiro minha vida assim como ela é do que a que está se passando por sua cabeça.

Um momento, espera um pouco. Não devia ser eu fazendo as perguntas aqui?!

– Você não pode ser tão monótono assim! Tão comum! – exclamou ela inclinando-se para mim, tanto que parecia que iria cair da barra de ferro.

– Erm... Acredito que não seja uma questão de poder ou não...

– Claro que é!

– E por que da sua exaltação?

Arght, de novo era ela quem estava no controle da conversa. Me perguntei quando foi que deixei esse rumo ser tomado.

– Ora! – endireitou-se e cruzou os braços com ar superior. – Por que eu fui salva por você. E se você é uma pessoa comum e monótona, isso faz de mim algo ainda pior!

Mas que?! Como essa garota...?! Respirei fundo passando a mão pela cabeça.

– Estou brincando – disse e ao olhar para ela vi o canto de seus lábios se erguer em um sorriso e abrir um de seus olhos em minha direção. – As vezes é no comum que se encontra a beleza de toda a vida.

– Huh?

– Fiquei curiosa em ver seu rosto irritado. Alguém que passa pelo que você passou comigo não teria uma expressão tão tranqüila quanto você teve.

– De qualquer forma – prosseguiu, – você parece ser uma pessoa bastante interessante... humm...

– Eduardo – respondi sem compreender a mudança radical. – Pode me chamar de Du.

– Du – repetiu sentindo o gosto do nome em seus lábios finos e rosados. – Um nome comum para uma pessoa comum – murmurou. Saltou do parapeito e caiu em minha frente estendendo sua mão aberta para mim. – Akari Luna. Ou como alguns humanos me chamam: Tsuki Akari. A luz da lua.

– Luz... da lua? – repito sem compreender.

Um comentário:

André Freitas disse...

Gostei do dialogo, embora acho que tenha alguns travessoes faltando, non?

O bacana é que nao dá pra saber o que vai acontecer next. Entao, vamos acompanhando.