segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Duas Luas - Sete

– Oho – disse Yumei em um tom irônico do outro lado da linha – Então finalmente chegou o momento.

– Huh? – cocei a cabeça por cima do celular.

Cheguei em casa com dois pratos congelados que comprei no supermercado, mas Akari não estava em lugar algum. Não era de se espantar, ela devia ter seus próprios assuntos para resolver. Cocei a cabeça novamente com o pensamento.

Quais tipos de assuntos teria uma luz da Lua?

– Ainda está ai? – Yumei perguntou curiosa. – Kin?

– Já disse que não gosto desse apelido.

– Oh... Eduardo então?

– Acho que esse nome já não me é mais necessário.

– Então Kin será! – disse alegre, mais alegre que qualquer um deveria ficar com algo tão banal como aquele apelido. – Um nome é algo muito poderoso, Kin. Ele não apenas define uma pessoa como lhe da todo o poder concebido pelo nome. Aquele que não possui um nome, não possui uma identidade, sendo desconhecido pelos outros acaba desconhecido por si mesmo. De qualquer forma, esteja preparado para hoje a noite.

– O que vai fazer?

– Ora... é a noite em que os gatos e bruxas saem, não é? – mesmo não a vendo, podia enxergar sua imagem deitada sobre sua cama piscando um olho e sorrindo ao pronunciar tais palavras.

Antes que pudesse responder, ela já tinha desligado. Guardei o celular no bolso e esquentei meu prato. Passei o resto do dia lendo tranquilamente, sem qualquer sinal de Akari ou do chefe, filho do chefe, ou seja lá quem fosse.

Quando anoiteceu me preparei.

Uma coisa que nunca gostei é de armas. Armas atraem problemas, independente de você a carregar para proteção ou para agressão, somente o fato de estar carregando uma é o suficiente para atrair problemas. As pessoas olham para você de uma forma diferente, estranha, desconfiada. Sei que parte disso é psicológico, porém há uma grande parte que envolve a ligação entre os espíritos dos seres humanos. Alguns chamam de sexto sentido, algo que somente algumas pessoas possuem. Yumei, contudo, diz que todo ser humano possui um sexto sentido, a diferença que existem pessoas mais sensíveis, outras mais suscetíveis, outras que descobrem tardiamente na vida e outras que apenas o ignoram por medo. Talvez carregar uma arma escondida ative um fragmento esquecido desse sexto sentido. Essa é, pelo menos, a parte espiritual que vejo para os olhares desconfiados que as armas atraem.

Em todo caso, a única arma que tinha para me defender era um canivete de lâmina longa dobrável. Não sendo uma arma de fogo já me fazia feliz. Yumei havia me dado como proteção, disse que a lâmina foi feita com um material especial e que foi encantada por runas. De fato haviam muitos desenhos entalhados e emitiam um brilho estranho.

Guardei o canivete no bolso da minha jaqueta esperei a ligação no celular. Não seria a primeira vez que fazíamos isso, por isso já sabia a rotina. Meu celular tocou um pouco antes da meia noite, uma vez apenas e em seguida calou-se. Estava na hora.


O que encontrei foi muito estranho, a entrada do prédio em que trabalhava estava aberta, mesmo o horário de fechamento tendo passado há horas atrás, a entrada estava aberta como se estivesse de dia. As luzes estavam acessas, mas ninguém na recepção, nem mesmo um segurança. Olhei em volta, ninguém. Nem nas ruas, nem no prédio. Parecia haver entrado em um lugar isolado.

Ao entrar, sombras começaram a percorrer as paredes e gemidos ecoaram pelo grande salão.

– São espíritos que foram aprisionados nessa caixa – a voz de Akari surgiu atrás de mim.

2 comentários:

Mônica Cadorin disse...

Oh, eu tinha entendido que você tinha terminado a história! Agora estou ainda mais curiosa para saber como continua! Abandonar o blog, tudo bem, mas não abandone seus pobres leitores!
Um abraço
Mônica

Mônica Cadorin disse...

Que mais, Felipe, que mais! Estou curiosa!