Quando a sombra da noite cobriu o
sono das pessoas, a garota pousou descalça sobre o asfalto empoeirado e cinzento da
cidade. Como fazia todos os dias ela passou a dançar, a Lua e as estrelas eram
as únicas espectadoras. Contudo, aquela noite havia mais uma pessoa a vê-la,
alheia a sua presença, saltava sobre as projeções luminosas dos postes. Seus
cabelos prateados e vestido branco acompanhavam o suave movimento de sua dança.
Hipnotizado
pela beleza celestial da garota, não pude desviar meu olhar, mal sabia se
estava respirando ou havia me esquecido. Pensava que em um suspiro, em uma
única e simples piscada, poderia perder aquele instante para sempre.
Quando
nossos olhares se cruzaram? Seriam segundos, minutos ou horas? Mas foi naquele
instante que eu vi seu rosto tão alvo quanto porcelana, um sorriso meigo e
gentil se formou em seus lábios delicados. A garota acenou, como se já
houvesse, há muito, percebido a minha presença ali, na janela da minha casa.
Enormes asas de prata se abriram de suas costas, reluziam uma aura branca
angelical, penetrando a noite fria com luz vívida e calorosa.
Um
piscar de olhos.
Foi
tudo que precisou, e assim que os abri vi a garota subir aos céus, as penas brancas
ondulavam sobre o ar noturno deixando rastros prateados.
Desci
correndo as escadas, desesperado, mas era tarde. A única coisa que havia
sobrado nas ruas era a solidão acompanhada da madrugada.
Um comentário:
Cara, engraçado. As vezes não escrever é a melhor forma de nos renovarmos. Acho que foi isso que aconteceu contigo. Para quem lê teus textos sabe que essa é una idéia que te ronda há um tempo, mas acho que essa foi a melhor versão dela até agora. Well done
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