terça-feira, 8 de setembro de 2009

Duas Luas - Um

O cheiro pútrido do ácido estomacal se misturava ao cheiro de ferro do sangue. Pedaços de corpos estavam espalhados pelo chão e empalados em enormes estacas fincadas no asfalto. Os escombros do que antes foram enormes apartamentos comerciais e residenciais, e aqueles esqueletos que sobreviveram a destruição do quer que tenha acontecido aqui, cercam a carne e os ossos até além do horizonte do céu tingido de escarlate e nuvens negras.

Colocando as mãos sobre o rosto tento fugir da amarga realidade. O ar que entra em meus pulmões queima como brasa. Como vim parar aqui, não faço idéia, mas sei que é o mundo em que um dia vivi.


Acordei em meu escritório com a luminária da mesa acesa, a luz fluorescente estalando de constante uso, meu redor está escuro e vazio. Olhei para meu relógio, três da madrugada de quarta feira. Não era a primeira vez que tinha dormido em cima da mesa por excesso de trabalho.

Peguei minhas coisas e sai do escritório deserto. Na portaria me despedi do guarda noturno.

– O senhor não quer que eu chame um taxi? – perguntou ele por trás do balcão.

– Não, obrigado – respondi. – Vou a pé mesmo – acenei para ele passando pelo hall de entrada.

Do trabalho até minha casa era cerca de vinte minutos, o problema eram as ruas estreitas e escondidas das demais. Por ser madrugada não me incomodei muito, a maioria dos assaltantes e mendigos deveriam estar dormidos ou bebendo nos bares afastados da região.

Isso não mudava o fato de tudo estar deserto e um tanto intimidador. As portas de ferro das lojas fechadas, as casas e apartamentos com suas luzes apagadas, os barulhos dos motores dos carros ecoavam distantes, como se estivessem em um sonho.

Continuei caminhando até que algo inesperado entrou em meu campo de visão.

Banhada como um ser angelical pela luz do poste que projetava um círculo amarelado no chão, uma mulher estava deitada de costas para baixo. Seus longos cabelos azuis –que lembrava o azul de jeans claro – e lisos estavam espalhados, mas não ousavam cruzar o limiar da escuridão. Sua pele alva reluzia uma incandescência casta e meiga. Usava uma longa saia de um azul muito mais escuro que seus cabelos, e uma camisa branca abotoada até a altura de seu pescoço.

Me aproximei o mais rápido que pude. Felizmente ela estava respirando, porém parecia inconsciente.

– Ei – disse pegando-a nos braços. – Garota? Ei! – balancei-a. Obtive apenas um fraco movimento de suas pálpebras fechadas. – Espere, vou chamar uma ambulância.

No instante em que ia pegar meu celular, a garota agarra com firmeza minha mão com o aparelho. Nossos olhares se cruzam, seus olhos são azuis como seus cabelos.

– Não! Eu vou ficar bem – disse com uma voz fraca. – Só preciso descansar...

Logo em seguida voltou a fechar os olhos caindo em um sono profundo. Cocei a cabeça e olhei em volta. Ninguém.

Sem outra alternativa a carreguei até minha casa.

5 comentários:

André Freitas disse...

interessante, let us see whats next.

cheers

Anônimo disse...

"sem outra alternativa"... espertinho hahah...

Jessy disse...

Espero que esse seja o capítulo 1!!! muito bom Massa!

Ricardo Bruch disse...

Fala Felipe,

foi um prazer ter te conhecido.

Como vc sabe, estou cuidando do Bostoievksi até o André voltar a ativa.

Dá um pulo lá qualquer hora.

Abraços.

MMA disse...

taradenho você não??