quarta-feira, 6 de maio de 2009

Escrever, escrever e escrever.

Escreva. Se você tem vontade, escreva; mesmo não sabendo como começar, como escrever certo ou errado, torto ou reto, apenas escreva. Escrever não é um ato certo ou errado, fácil ou difícil, sério ou leviano, escrever é apenas escrever. A vontade de escrever é sempre maior, a paixão pela escrita é inevitável. As histórias, as imagens, a beleza, amizades e inimigos tudo que nos é contato pelas letras: escreva.

Aristóteles dizia que a paixão não existe sem a razão, e vice-versa. Porém o descontrole, a falta de julgamento, a loucura por um desejo, por uma obsessão, faz com que a razão seja reprimida, afundada no fundo, no canto do canteiro, deixe a razão lá e quando sobrar a paixão: escreva.

Não importa se achem que você não tem futuro, que você é um merda, que isso o que faz não passa de ilusão de criançinha: escreva, só quem sabe escrever é quem escreve, só quem sente paixão pela escrita é quem escreve, certo e errado, torto e reto. Os escritores já nascem loucos, já nascem com distúrbios, já nascem diferentes das “pessoinhas” que não sabem o que é escrever. Então, escreva, não lute, não force, escreva.

Se sua razão diz para não escrever, lhe falta paixão, lhe falta amor, lhe falta coragem, lhe falta dar espaço para que a paixão se misture com sua razão, que sua paixão enlouqueça a sua razão.

Rouanet dispõe dois tipos de razão, a sábia e a louca. A sábia é a moderação da paixão com a razão, de forma que o julgamento seja imparcial, já a louca que seria a paixão reprimida, dominada pela razão, porém tal razão é nada mais que a influencia da perturbação da paixão reprimida, aquilo que uma razão louca se diz ser a pura razão, é na verdade uma loucura gerada pela paixão.

Então, deixe que os outros te reprimam, deixem que digam o quanto você é inútil, fraco, imbecil e idiota, acredite neles, reprima sua paixão, se torne um louco, mais louco do que você – como escritor – já o é. Reprima a paixão e se deixe ser controlado por uma melancolia. Renuncie a escrita, sinta essa melancolia. Seja melancólico para ser o que os outros querem que você seja.

Mas no fim, lhe garanto, você não vai parar de escrever, a paixão não é vencida, mesmo na razão louca a paixão lhe influencia, lhe ferve, razão louca ou sábia: escreva, a paixão pela escrita transcende.

Idéias não nascem da razão, criações não nascem da razão, arte não nasce da razão, tudo é paixão, deixe que elas surjam, a razão é secundária, a razão é o que leva a concretizar as idéias. Não deixe que a razão controle suas idéias, pois elas não podem ser controladas, então não controle a escrita. Só os escritores conseguem escrever, só os escritores estão preparados para receber as palavras que ninguém mais pode.

Apenas escreva.

As pessoas não compreendem o escritor, o menosprezam e até o tratam com repugnância, mas por quê? Porque escrever é para poucos, escreva.

Escritor não é sábio: é atento. Escritor não é inteligente: é letrado. Escritor não é excêntrico, é louco. Escritor não é idiota, é mártir.

Então, escreva. Não deixe de escrever. Não deixe que os outros ao seu redor te influenciem, não deixe que a SUA razão te influencie. O escritor escreve, não por felicidade, não por tristeza; não por facilidade, não por dificuldade. O escritor escreve porque escreve, a paixão não tem razão, a criação não pode ser controlada, se o é, deixa de existir. Escrever é sofrer, assim como a paixão. Escrever é ser passivo com o externo, assim como o é a paixão. Então, por que escrever? Simples, porque paixão não se controla, não se domina, não se reprimi, paixão se sente, paixão existe, paixão não é opcional de fábrica, está entalhada no espírito do escritor. Paixão está aqui e ali, nasce com o escritor, morre com o escritor.

Por fim... Escreva.


Referência: Os sentidos da paixão. De Sérgio Cardoso. Ed. Cia das letras.

Um comentário:

André disse...

Caralho.

Não é que vc atualizou isso aqui mesmo.

Well done.