sábado, 16 de fevereiro de 2008

O artista

E é neste momento que o artista rouba a cena. Se eu fosse artista colocaria no papel o que meu coração insiste em gritar, meus ouvidos se forçam a musicar mas minha boca não consegue pronunciar.

Se eu fosse artista saberia escolher as palavras mais belas e as organizaria de modo que te fizessem corar, seu sorriso se abrir e seu peito arquejar.

Mas não sou artista, não sou escritor, muito menos poeta. Não há cartazes na rua com meu rosto estampado, não há sessão de autógrafos nem nada no meu nome que me façam identificar.

Mesmo assim faço questão de suar, perder noites de sono e horas de acordar apenas na esperança de ver o palco todo se iluminar com brilho de seus olhos acompanhados da ovação do seu riso, e, mesmo que tudo perdure a eternidade de um segundo, sentir em um abraço, mesmo que singelo, seu coração me aplaudir de pé.

Mas, apesar de tudo, há um momento em que o artista sai de cena e é obrigado a ver a cortina se fechar, a orquestra parar e os aplausos amainarem; sem reconhecer um rosto sequer e sem ter sorriso a almejar disfarça-se de sujeito comum e saí pela porta dos fundos rumo a um quarto de hotel qualquer, que de ser igual aos outros, nunca mais vai se lembrar.

Eu, que não sou artista, recolho-me ao bar, onde poderia ser tido por um artista qualquer; peço a bebida mais cara, acendo um cigarro, mas sem beber nem tragar durmo cansado de esperar alguma coisa que me prove que vale a pena esperar.

Ao acordar e lembrar que não sou artista, pego minha jaqueta, pago a conta do bar e ando na rua em busca de um rosto familiar qualquer.

Chego em casa com o Sol a me empurrar, jogo as chaves na mesa, que está posta e recito um poema de amor àquela que estás a dormir e sonhar.

Sonha que sou artista, ilumina meu palco com o brilho de seus olhos acompanhados da ovação do seu riso; e com entusiasmo de fã incondicional, me abraça pela eternidade, fazendo meu coração sentir seu coração aplaudindo de pé.

Um comentário:

vini disse...

bem escrito. bonito. bonito.

vou roubar umas partes qualquer dia, você não se importa, né cara?

hahaha, abraço