domingo, 15 de fevereiro de 2009

Trevas da Luz - O Gato Perdido (PARTE 4)

– Você não me respondeu – lembrei-a lutando para me manter no lugar enquanto a direção frenética de Ling em seu Aston Martin me arremessava nas curvas. Olhei para trás de relance e Nana parecia não ter problemas em se manter no lugar. – Por que isso só está acontecendo agora?

– Não faço idéia – respondeu Ling fazendo uma curva muito acima da velocidade para esquerda, eu fui arremessado para direta e tive que me segurar nos apoios já que o volante ficava do outro lado. – Alguma idéia Nana? – olhou rapidamente pelo retrovisor.

Olhei pelo canto do olho e a vi negar com a cabeça. Voltei para Ling novamente, agora em linha reta estava mais tranqüilo.

– Segunda coisa, então – comecei. – Aonde entra o gato nessa história?

– Lembra do que conversamos ontem à tarde? – continuou antes que eu respondesse. – Um gato respeita seu dono, além disso, como qualquer outro animal ele é sensível aos sentimentos do dono. Assim que essa ligação é feita entre dono e animal, também é feita um laço mais profunda, espiritual se você preferir.

Diante do semáforo vermelho, Ling fez uma pausa no que ia falar, olhou rapidamente a rua que cruzava o farol e, vendo que dava para passar, acelerou ainda mais o carro.

– Quando a pessoa que tem essa ligação com o animal é alguém bondoso com ele, a reação é equivalente. Esse é o tipo de respeito e de proteção que falamos. Se você é gentil com um gato ele responder de mesma forma, assim que o laço é estabelecido – virou uma curva, me segurei e suspirei assim que vi uma avenida. – Minha suposição é de que o gato era muito bem cuidado por Nathalie, e depois do que aconteceu com ela, ele está honrando a bondade dela.

– Calma, calma, calma – disse atônito a encarando por um olho e com o outro na avenida. – Se isso acontecesse com todos os gatos do mundo...

– Não – cortou Ling. O canto se seus lábios levantando. – O forte sentimento de raiva que Nathalie sentia era sobre-humano, esse sentimento foi canalizado através da ligação dela com o gato e deu no que vimos. Tudo me leva a pensar que a ligação entre eles era muito forte – olhou pelo retrovisor para o Nana, depois se voltou para o asfalto. – Talvez ela tivesse algum tipo de sensibilidade como a Nana.

Voltei para trás para Nana, seus olhos verdes e opacos bem abertos nos meus. A freada repentina do carro me jogou contra o pára-brisa, por sorte todos estávamos com cinto. Virei para frente, não havia como passar do semáforo vermelho, Ling foi obrigada a parar e soltou um palavrão em chinês que não reconheci. Me olhou pelo canto dos olhos, prestando parcialmente atenção ao semáforo.

– Isso acontece, é possível – completou percebendo que eu precisava de mais informações. – Como Nana disse, o gato é um animal que respeita seu dono e como sinal de respeito por Nathalie, ele resolveu vingar as mágoas dela da forma que sabia. Se os gatos realmente são guias das portas do mundo dos mortos, então não é de se espantar que ele trouxesse a morte daqueles que causaram a raiva no coração de sua dona.

Quando o semáforo abriu, ela esperou uma oportunidade de cortar a fileira de carro que se mantinham alinhados.

– E como você sabe que esse gato é realmente da Nathalie? – pensei mais um pouco e taquei outra pergunta. – E ele por um acaso está vivo?

– Não sei – respondeu séria e concentrada no volante. Tinha voltado a correr. – Para ambas as perguntas.

– Você podia ter perguntado para a mãe dela.

Senti o carro diminuir um pouco a velocidade e Ling virou para mim.

– Ela foi morta – seu olhar duro. – Não sei se foi algum dos envolvidos, Anderson também não soube dizer, mas eu acredito que alguém estivesse com medo e mandou matá-la. Isso foi logo após a morte das garotas naquela festa.

– Então...

Antes que eu pudesse terminar Nana gritou do banco de trás.

– Ling! – eu me virei para vê-la e Ling a olhou pelo retrovisor. – A energia está na outra direção, para oeste – apontou pela janela, à esquerda.

– Merda! – dessa vez não foi chinês. – Ainda ta na casa deles.

Mudou de rumo repentinamente, os pneus do carro cantando sobre o asfalto deixando um rastro preto e esfumaçado. Se a rua não estivesse vazia e a habilidade de Ling no volante não fosse de mestre, com certeza seria um acidente muito feio.

Com o coração preso na garganta e o suor da tensão ainda escorrendo virei para trás com os olhos bem fechados.

– E por que você não falou isso antes?! – reclamei colocando as mãos na cabeça.

– Não sabia se a energia iria seguir, ela oscilou – disse atenta aos seus sentidos. – Sumiu e reapareceu no mesmo lugar, está mais intensa.

– Se ele é realmente quem planejou tudo, o gato de Nathalie deve ter guardado o melhor para o final – Ling falou de repente. – Espero não chegarmos tarde, se Nathalie sabia de toda a teia que se formou por trás do estupro dela, Alexander não vai ser o último.

Nesse ponto ela podia estar certa, principalmente porque Nathalie devia te desconfiado já que simplesmente ignoravam as denuncias dela. Se o que me falaram era verdade e o gato tivesse absorvido toda essa energia de rancor, então começaria por aqueles que ela mais tinha raiva até todo o restante envolvido.

– Vão precisar de muitos caixões – murmurei para mim, mas Ling pode ouvir.

Acelerou mais e me olhou, as ruas estavam vazias a maioria das pessoas deveria estar viajando por causa do fim de ano.

– O que disse?

– Que vão precisar de muitos caixões.

– Você acha que não vamos conseguir impedi-lo?

– O que eu acho é que deveriam ficar a sua própria sorte depois do que fizeram – suspirei. – Mas isso não é o melhor a se fazer, não é?

– Não – respondeu friamente Ling. – As pessoas fazem o possível, na medida do possível e da forma que as circunstancias permitirem, tudo de acordo da maneira como pensam e cresceram...

Ergui uma sobrancelha a encarando e ela me encarou de volta.

– Alguém me disse isso no passado – revelou voltando-se para a rua diante do pára-brisa. – Não se pode julgar as pessoas simplesmente por suas ações sem antes entender todas as raízes que há por trás delas.

Dei uma risada leve e ela retribuiu com outra.

– Sim mestra – disse zombeteiro.

Após uma freada brusca paramos em frente a mansão de Anderson.


Através do enorme portão de grades da entrada via-se uma pequena rua de alguns metros cercada por um jardim e na ponta oposta uma abertura que dava para a grande porta de madeira de quase três metros de altura. Era uma mansão moderna de três andares, sendo grande parte branca e com janelas panorâmicas que se erguiam do chão ao topo da casa.

– Alguma coisa está errada – anunciou Ling olhando entra a grade. – Havia vários seguranças aqui – caminhou em paralelo ao portão e parou. – Masahiro, aqui!

Corri até onde estava e na clareira que se abria no extremo da rua de acesso a entrada da mansão, atrás de uma árvore havia um carro com as portas abertas, mas sem ninguém por perto. Aquilo não parecia bom.

Toquei o interfone, acenei para as câmeras de vigilância da entrada e esperamos os segundos virarem minutos, e os minutos consumirem um cigarro meu e outro de Ling. Ninguém chamou a policia.

– Perdi a paciência – disse sacando a arma do coldre. – Afasta.

Foram três tiros na fechadura do portão até que abrisse um buraco em seu lugar, com uma ombrada no centro onde as duas seções do portão se encontravam, uma delas se abriu e então corremos para dentro.

O carro estava abandonado, passamos pela porta de entrada que estava apenas encostada, chegamos há uma sala grande por onde um pequeno lago cercado de mármore corria pelo chão sob uma placa de vidro. A claridade da tarde penetrava por todas as janelas projetadas para deixar que os raios de Sol entrassem por mais tempo. Gritei chamando por alguém, mas sem sucesso. Duas vezes, depois Ling e novamente eu. Nada.

Foi quando Nana sobressaltou-se.

– Voltou! – exclamou se referindo a energia. – Ali! – apontou para o fundo da casa.

No mesmo instante que ela falou ouvimos vários tiros seguidos de um grito que foi logo abafado como se estivesse se afogando. Corremos até a parte de trás da casa onde se encontrava a piscina relatada por Anderson. Era uma piscina retangular grande, um pouco menor que a largura da casa, ao fundo um jardim grande com algumas árvores e a esquerda da piscina uma área coberta com uma churrasqueira e mesas para festas.

Saímos e paramos imediatamente assim que atravessamos a porta dos fundos, a cerca de quinze metros da piscina. Haviam corpos espalhados pelo chão torcidos de uma forma impossível, cada parte deles mergulhados em uma poça de sangue. Eram os seguranças. O último deles, o perpetuador dos tiros que ouvimos estava flutuando no ar, seu corpo torcido como os outros e por onde seus ossos saiam da carne, pequenas fontes de sangue desciam.

Próximo a piscina de frente para ela e de costas para nós, um rapaz de pijamas e do seu lado esquerdo um senhor também torcido, mas diferentes dos seguranças ele não usava terno, apenas uma camiseta e uma calça comum. Devia ser Anderson.

– Que energia é essa?! – Ling exclamou a minha esquerda. – É excruciante.

Olhei para ela, além da cena grotesca que nem mesmo filmes de terror conseguiriam fazer igual, não sentia coisa alguma. Virei para Nana, seus olhos verdes bem abertos agora estavam brilhando com vida. Não tinha dúvidas, agora ela estava vendo tudo que acontecia.

– Nana? – perguntei, não era a primeira vez que seus olhos ganhavam vida e nenhuma das vezes anteriores que aconteceu, indicou bom sinal.

– É muito poderoso – disse absorta naquilo que eu não podia ver. – Não é só um gato. Há milhares de espíritos surgindo ao seu redor, lamentam-se, sentem raiva. Masahiro... é como se os portões do mundo dos mortos estivessem abertos nesse lugar.

Um calafrio percorreu minha espinha até minha nuca, o coração começou a bater em um ritmo acelerado. Ling confirmou.

– É. Não posso ver, mas consigo sentir uma energia pesada, o cheiro fétido e esse ar pesado estão afetando meus sentidos.

Mantive a arma em punho todo momento. Ah, que se dane, pensei caminhando no sentido do rapaz que estava de costas. Mal havia dado dois passos e ele pareceu perceber minha aproximação e se virou. Pensava que aqueles corpos já formavam um cenário terrível o suficiente, porém quando o rapaz se virou consegui ver que não tinha olhos e devido seus cabelos meio longos não tinha percebido que estava sem orelha até ver a lateral de seu rosto. Foi então que vi suas mãos cheias de sangue. Ele havia perfurado seus olhos e arrancado suas orelhas. Não precisava ser um gênio para reconhecer que era Alexander, ou o que havia sobrado dele.

Travei no lugar quando vi aquilo, não pude me movimentar por alguns instantes, mas foram o suficiente para que ele se voltasse para a piscina lentamente, fez que ia cair e logo retomei meu controle e corri em sua direção.

– Ei! Garoto! Para! Para!!! – gritei enquanto corria.

A menos de cinco passos dele senti um impacto contra meu peito e estomago tão fortes que fui arremessado para o lado, como se tivesse sido pego por uma explosão. No mesmo instante perdi a respiração e a visão embaçou. Em menos de um segundo o mundo ao meu redor ficou mudo e logo em seguida voltou abafado.

– Masahiro! – ouvi Ling e Nana gritarem ainda próximas a porta da casa, suas vozes pareciam atravessar uma espessa camada de vidro até chegar as minhas orelhas.

Atordoado e recuperando a visão aos poucos me voltei para Alexander, mas já não estava mais lá. Levantei-me da maneira que pude pensando em correr atrás dele, mas fui parado pela voz de Nana.

– Masahiro!

Eu a ouvi mais uma vez e virei para vê-la ainda na porta, sua mão esquerda estendida na frente do corpo. Uma luz branca cruzou verticalmente por sua mão aberta e rapidamente a luz começou a se estender em forma de um arco; as luzes formando pontas nas extremidades como se fossem asas de cristal prateado.

Do seu lado Ling pôs sua mão sobre a de Nana que segurava o arco de prata e pronunciou algumas palavras que não pude ouvir, logo uma flecha grande branca com entalhes dourados surgiu. Com um movimento de dedos da outra mão, Nana puxou a corda do arco que se materializou, a corda parecia com pequenas estrelas unidas.

Toda a cena durou apenas alguns rápidos segundos. Por instinto dei dois passos para trás preparado para o que estava por vir.

Nana disparou a flecha na direção onde estava Alexander a beira da piscina, porém foi parada no ar e estilhaçada, uma explosão de luz e poeira luminosa se espalhou no ar, fui obrigado a proteger meus olhos com ambos os braços e quando eu os baixei a poeira se assentava, o gato e os espíritos em forma de tentáculos erguiam-se como escudo.

– Ling! – exclamou Nana ao seu lado. – Os espíritos que seguem o gato o protegeram.

– Tch... – encarou nervosa olhando para eles. – Eu sei, a energia se dissipou, agora consigo ver eles... as magias de luz não conseguem penetrar nesse tipo de trevas.

Minha reação foi dar dois tiros em direção a muralha que os tentáculos formavam, porém atravessaram como tivessem passado por uma densa fumaça.

– Masahiro! – olhei pelo canto dos olhos, era Ling. – Armas mortais não afetam espíritos!

Suspirei e baixei a arma. Não havia maneira de ajudá-las. No mesmo instante o silêncio nos envolveu, nem o som do vento ou do movimento do gato, somente da minha respiração e um abafado bizarro como se todo o lugar tivesse virado uma sala a prova de som.

No meio das trevas que havia nos cercado e a direita da piscina, uma luz azulada quase translúcida atravessou dando forma a uma garota. Olhei para as duas e elas também permaneciam imóveis diante do fantasma, pude ver o balbuciar de Ling e claramente entender: Nathalie.

Os tentáculos abaixaram até penetrarem pelo chão de mármore sobrando só o gato e Nathalie vestida apenas com um vestido de alça curta um pouco mais opaca que o resto de seu corpo, mas da mesma cor.

Da piscina ergueu-se o corpo de Alexander que começou a tossir pela água respirada, estava fora de seu transe, seu corpo no ar a alguns centímetros acima da água, sendo alvejado pelo olhar furioso de Nathalie já na beirada da piscina.

Não sei quando e nem como, mas vi outra flecha do mesmo estilo anterior cortando o espaço na direção de Nathalie. O gato avançou para interceptá-lo e assim o fez, porém daquela vez a flecha foi absorvida antes de acertar o gato. Seus pelos se ergueram e seus olhos amarelos cintilaram de raiva. Percebia-se claramente que seu poder estava muito além daqueles espíritos que o cercava antes. Vendo que os ataques de Nana e Ling, não iriam surtir efeito, fiz a primeira coisa que me veio à cabeça.

– Nathalie! – gritei de alguns metros de distancia sem me aproximar. No mesmo instante ela lentamente virou seu olhar do corpo de Alexander que havia desmaiado para mim. – Você é tão bondosa assim a ponto de matar ele?!

Seu olhar se tornou ainda mais rancoroso, um brilho intenso por trás de seu corpo feito de luz azulada.

– Olha pra ele – disse apontando para Alexander. – Arrancou suas orelhas, furou seus próprios olhos com as próprias mãos. Fora os pesadelos que o levaram a fazer isso. Você não acha que matar ele é ter piedade? – dei dois passos em direção a borda da piscina. – Não acha que viver vai ser bem pior pra ele? Agora ele ta sozinho, sem pai, sem seguranças, sem família nem amigos... Morrer para ele vai ser o melhor que poderia acontecer.

É verdade que eu preferia todos mortos, mas naquele instante, naquele breve momento, queria que as coisas acabassem e que Nathalie descansasse tranqüila sem precisar se preocupar com o que havia deixado para trás. Dei mais um passo e estava muito próximo à beira da piscina, mais quatro, pensei.

– Você também já causou pavor em todos os que estavam envolvidos no seu caso, já foram expostos... – seu olhar era intimidador, porém sentia que de alguma forma Nathalie estava ponderando minhas palavras – não acha que já é o suficiente? O medo, os problemas, o terror e ódio com que todos vão ter que viver?

Eu a vi sorrir, era um sorriso amável que uma mãe da ao bebe assim que nasce. Fechou tranquilamente os olhos para mim e virou-se para Alexander que ainda pairava a alguns centímetros acima da água da piscina, quando abriu os olhos eles incendiaram de rancor.

Já estava próximo o suficiente da piscina e pulei. Não sabia se ia dar certo, mas precisava tentar fazer algo. Todo o tempo parecia ter reduzido de velocidade, meu salto em direção a Alexander foi lento, as batidas do meu coração subiram para as têmporas e eu as ouvia com um eco ensurdecedor. Uma batida, e estava me aproximando, duas batidas, estendendo as mãos, três batidas e as mãos quase estendidas. Mais alguns centímetros, ainda tive tempo de pensar quando senti mais um impacto sobre meu corpo, todos meus ossos e músculos se contorceram. Fui arremessado para o lado oposto da piscina caindo e rolando pelo chão até bater com as costas em um dos pilares que sustentavam a cobertura da churrasqueira.

Sentado com os pés e braços largados, sem força para me movimentar permaneci olhando enquanto o corpo de Alexander, que parecia estar mais distante do que realmente estava, se contorcia em uma espiral até que todos seus ossos rasgassem sua pele, a água da piscina tingindo-se da cor do sangue.

Tentei levantar um braço sem sucesso, olhei para eles estendidos ao longo do corpo, pareciam tão distantes quanto minhas pernas. Quando voltei para ver o que havia restado do corpo de Alexander, vi uma ponta preta se aproximando rapidamente, uma lança sombria cortando o ar vindo em minha direção, tentei mais uma vez levantar os braços para tentar me proteger, mesmo que fosse em vão, mas nem isso consegui. Fechei os olhos esperando pela minha morte.

Passaram-se alguns poucos segundos, e um clarão penetrou por minhas pálpebras, assim que o clarão se apagou abri os olhos. A lança de sombras havia se dissipado e fragmentos de luz pairavam do ar para o solo, virei para Nana que sorria soltando um suspiro de alivio, ela tinha conseguido interceptar a lança com uma de suas flechas. Ling corria em minha direção quando parou repentinamente, seus olhos arregalados e apontando para mim.

Pelo canto dos olhos a vi e me virei. Nathalie estava agachada na minha frente sorrindo, com a ponta dos dedos de uma mão acariciou gentilmente meu rosto, sua forma etérea era morna e transmitia uma calma aconchegante. Levantou-se mantendo seu sorriso olhando sempre para mim e, em um piscar dos olhos, desapareceu. O gato, já tranqüilo, virou-se fazendo pouco caso e partiu por entre as sombras que nos envolvia, enquanto as trevas o seguiram dando espaço para a luz alaranjada do final da tarde.

Os sons do vento acariciando as folhas das árvores e da grama reapareceram, pássaros cantavam na distancia, tudo parecia bem excetuando os corpos espalhados pelo chão e o de Alexander boiando na piscina de sangue. Não reparei quando Ling e Nana se aproximaram de mim estendendo seus braços oferecendo ajuda. Curiosamente me sentia melhor, como se todos meus ossos e órgãos que haviam sido deslocados pelos dois impactos tivessem voltado a seus respectivos lugares, pude me levantar sozinho.

“Nathalie,” pensei, não podendo deixar de soltar um sorriso.

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